A Série “Origem” (From): Mistério, Terror e o Labirinto da Mente


Lançada originalmente em 2022, “Origem” (título original: From) é uma série de suspense, drama e terror criada por John Griffin, produzida pela EPIX (atualmente MGM+).
A trama começa com uma premissa aparentemente simples, mas extremamente intrigante: viajantes comuns acabam presos em uma cidade isolada dos Estados Unidos, da qual não conseguem sair. Independentemente da direção que tomem, acabam retornando ao mesmo lugar, como em um pesadelo cíclico.
No entanto, o maior perigo não está apenas na cidade em si, mas nas criaturas que surgem à noite, parecendo humanas, mas com intenções monstruosas.
Com dois episódios iniciais impactantes, a série prende o espectador através de uma narrativa envolvente, que mistura o medo do desconhecido com a tensão psicológica dos personagens. Assim como em clássicos do gênero como Lost, The Leftovers e até mesmo Dark, From trabalha com a ideia de um espaço misterioso, um “não lugar”, onde regras comuns da realidade parecem não se aplicar.

A Premissa e o Desenvolvimento
A cidade onde os personagens estão presos não é apenas um cenário: ela é uma entidade por si só. As pessoas não sabem como chegaram ali e não conseguem sair, por mais que tentem.
O ambiente é povoado por símbolos misteriosos, árvores que se movem, sons que enganam e criaturas que assumem a aparência de entes queridos para atrair suas vítimas.
Entre os protagonistas está Boyd Stevens (interpretado por Harold Perrineau, conhecido por Lost), o xerife da cidade, que luta para manter a ordem e proteger os moradores. Ao mesmo tempo, acompanhamos a chegada de uma nova família, o que gera ainda mais perguntas e tensão.
A série se desenrola aos poucos, oferecendo pistas fragmentadas sobre a natureza daquele lugar, enquanto mergulha nos dramas pessoais dos personagens.
A Simbologia do Horror

O terror em Origem não é apenas visual, mas existencial. A ideia de estar preso em um ciclo sem fim remete a diversos arquétipos da literatura e do cinema — como o mito de Sísifo, condenado a empurrar uma pedra montanha acima eternamente, ou o purgatório cristão.
O medo do desconhecido é amplificado pelo isolamento social, pela perda de identidade e pela impotência diante de forças incompreensíveis.
As criaturas da noite simbolizam, de certa forma, os próprios medos internos dos personagens — suas culpas, traumas e desejos reprimidos.
Elas atacam quando os moradores não seguem as regras, como permanecer dentro de casa com talismãs que os protegem. Isso cria uma metáfora poderosa sobre a fragilidade da sanidade humana e os limites da civilização.
Aspectos Técnicos e Narrativos

A série é elogiada pela atmosfera opressiva, pelo design de som e pelos efeitos práticos usados nas criaturas. A trilha sonora é sutil, mas eficaz, e contribui para a construção de um clima de paranoia constante. A fotografia adota tons frios e neutros durante o dia, contrastando com a escuridão sufocante da noite.
A narrativa é construída em camadas, com flashbacks, sonhos e visões que confundem ainda mais a noção de realidade. Cada episódio adiciona perguntas, mas responde poucas, mantendo o espectador tão perdido quanto os personagens.
Esse estilo pode frustrar quem busca uma explicação rápida, mas encanta aqueles que apreciam uma construção lenta e profunda.

Análise Psicológica e Psicanalítica de “Origem”
Do ponto de vista psicológico e psicanalítico, Origem pode ser interpretada como uma metáfora do inconsciente coletivo e dos processos internos de repressão e projeção.
A cidade representa o inconsciente, um espaço fora do tempo linear, onde os personagens são forçados a confrontar partes de si mesmos que gostariam de esquecer. Cada morador da cidade carrega um trauma, uma perda ou uma culpa mal resolvida.
O fato de não conseguirem sair dali pode simbolizar a estagnação psíquica, típica de estados como a depressão ou o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), onde o indivíduo fica “preso” a um momento de dor.

As criaturas que surgem à noite podem ser vistas como manifestações dos complexos junguianos, partes reprimidas da psique que, quando ignoradas, retornam de forma ameaçadora. Elas assumem formas familiares — como entes queridos —, o que dialoga com o conceito freudiano do “Unheimlich” (o estranho familiar): aquilo que é ao mesmo tempo conhecido e perturbador, como um trauma que retorna travestido de lembrança.
A necessidade de seguir regras rígidas para sobreviver (como trancar portas e usar talismãs) reflete os mecanismos de defesa do ego. Quando esses mecanismos falham, a sombra (o lado oculto da personalidade) toma o controle.
Além disso, pode-se argumentar que a série explora a angústia existencial, ao confrontar seus personagens com um universo onde Deus parece ausente, a lógica não se aplica e a esperança se torna um fardo. O caos da cidade é o caos interior de cada um. É um convite a olhar para dentro — e não há fuga de si mesmo.